sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Meu pequeno anjo

Eu estava chorando no meu quarto, de novo. Porque tudo deveria ser assim? Eu não poderia ser feliz ao menos uma vez na minha vida? Eu não poderia amar e ser amada ao menos uma vez? Eu não pedi um príncipe encantado e muito menos um conto de fadas, eu só queria um final feliz, uma história de amor, que por mais que tivesse lágrimas no final, teria valido a pena. Mas eu não tenho isso, e sabe o por quê? Porque eu tenho um irmão mais velho.
Somos eu e ele. Ele e eu. Mais ninguém. Somos uma dupla imbatível, os melhores amigos, somos tudo um pro outro. Mamãe morreu quando éramos crianças – eu tinha dez anos e ele quinze – e desde então ele virou o meu herói, o meu tudo, a minha razão de viver. Mas nem por isso ele pode se meter na minha vida desse jeito.
Tudo era um mundo colorido, bonito e lindo. Eu tinha um namorado há cinco meses. E todo o meu mundo veio a baixo numa briga entre os dois homens da minha vida – meu irmão, Miguel e meu namorado Tiago. Na realidade, ex-namorado. Depois daquela briga entre eles que não vale a pena relembrar o Tiago terminou comigo e o Miguel simplesmente sorriu, dizendo: “Era o que eu queria, e Fê, você ainda vai me agradecer por isso. Você sabe que eu faço tudo por você maninha!” Eu juro que queria matá-lo.
É sempre assim, ele sempre arruma um jeito de acabar com os meus relacionamentos. A única relação que eu tenho com um garoto que não é o meu irmão, é o Rafael, o meu melhor amigo. E falar com ele também não ajuda, ele só diz que isso diz é coisa de irmão e que eu deveria agradecer. Hunf. É sempre assim, eu acabo sofrendo e chorando no meu quarto enquanto o Tiago tem uma super ideia pra me fazer superar e o Rafael fica do lado dele.
Tum, Tum, Tum. Adivinha que está batendo na porta? Limpei as lágrimas e esperei ele falar.
– Fernanda? Vamos maninha, abre a porta, vou te levar pra jantar, está bem? A gente encontra o Rafael na lanchonete, vem. Te espero no carro, você tem quinze minutos. Eu te amo.
Pronto, eu não disse que ele me levaria pra jantar? Agora, essa do Rafael estar junto eu não entendi. O que eles vão aprontar? Me arrumei e em menos de quinze minutos eu e o meu irmão estávamos no carro, indo em direção a lanchonete. Tudo estava normal, eu até nem lembrava da dor que eu sentia mais cedo, foi quando tudo aconteceu e eu só lembro de uma dor aguda e uma luz forte vindo em minha direção. Depois disso eu acordei no hospital, com o Rafael ao meu lado.
Nós conversamos e ele me contou o que aconteceu. Um motorista bêbado passou o sinal vermelho e bateu em cheio no nosso carro. Ia bater em mim, mas o Tiago virou o carro segundos antes de bater, e a colisão aconteceu do lado dele. Meu irmão morreu e eu sobrevivi.
Tudo o que eu queria era agradecer e pedir perdão. Meu irmão tinha se ido, para sempre e eu queria que ele morresse antes. Chorei por dias após o acidente, sempre levando comigo a correntinha que ele usava – uma corrente de prata com um pingente de fada. Ele dizia que eu era a fadinha dele e agora eu descobri que ele era o meu anjo da guarda. O meu pequeno anjo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário